Segundo uma notícia do jornal Público, no livro de memórias, o ex-Presidente da República diz que o então primeiro-ministro pediu ao banco público que desse uma garantia a uma empresa no negócio da auto-estrada de Trás-os-Montes.
Nas confidências sobre as Quintas-feiras e outros dias, o antigo Presidente da República deixa escapar uma acusação a José Sócrates, dizendo que o ex-primeiro-ministro lhe contou que fez um pedido à Caixa para dar garantias "de avultado montante" a "uma certa empresa". Cavaco Silva não diz qual o valor da garantia, nem qual a empresa, mas diz que Sócrates lhe contou o pedido que fez à administração da CGD. Esta versão difere do que Santos Ferreira, presidente da Caixa durante o tempo em causa, disse na comissão de inquérito, negando a interferência do Governo nos negócios do banco público.
"Quando, seguidamente, me contou que o Governo tinha pedido à Caixa Geral de Depósitos para que concedesse uma garantia de avultado montante para que uma certa empresa pudesse concorrer à concessão da auto-estrada transmontana, percebi que não tinha tido sucesso no meu esforço didáctico sobre a afectação de recursos em tempo de escassez de crédito". Com este desabafo, o ex-Presidente da República mostra que, para si, houve uma ingerência directa do primeiro-ministro num negócio da CGD.
Cavaco Silva não identifica a empresa em causa, contudo, tendo em conta o caso, só há duas possibilidades. À concessão da auto-estrada transmontana concorreram dois consórcios liderados por duas empresas de construção portuguesas, a Soares da Costa e a Somague. A Soares da Costa teria, segundo apurou o PÚBLICO, garantias de outros bancos, incluindo espanhóis, para entrar no negócio. As garantias a que o Presidente se refere como de "avultado montante" terão sido dadas à concorrente, a Somague, que acabaria por sair derrotada da concessão.
Nas quase 600 páginas do livro, o antigo Chefe de Estado não menciona mais nenhuma interferência directa do Governo na CGD, à parte da nacionalização do BPN e do papel que o banco público desempenharia.
Fonte: Público.