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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Instituto alemão critica fracasso da austeridade em Portugal

Fotografia Passos Coelho e Angela Merkel

Medidas de austeridade amplificaram a crise em Portugal, Espanha e Itália. Os cortes “drásticos” na despesa neutralizaram os efeitos das reformas estruturais, conclui o instituto alemão DIW.

Os cortes por vezes "drásticos" na despesa neutralizaram os efeitos das reformas estruturais, agravando a recessão em Portugal, Espanha e Itália. Num estudo publicado esta quarta-feira, 22 de Fevereiro, o instituto de investigação económica alemão DIW conclui que a política de austeridade aplicada entre 2010 e 2014 foi "contraproducente" porque amplificou os efeitos da recessão.

Em vez de terem reduzido a dívida soberana, como se pretendia, as medidas de consolidação orçamental, por vezes "drásticas", foram mal sucedidas e arrastaram os três países para a recessão.

"Ao contrário do que geralmente se pensa, o falhanço da consolidação orçamental não resulta da falta de vontade de reformar dos governos. Na verdade, os cortes dramáticos na despesa e os aumentos de impostos impediram que as reformas produzissem plenos efeitos", referem os autores.

A enorme dívida das famílias nos três países foi decisiva para o impacto negativo das políticas no crescimento.

"As famílias tiveram de usar uma grande parte do seu rendimento disponível para pagar a enorme dívida e ficaram com menos dinheiro disponível para consumo". Depois, "o governo aumentou impostos e cortou despesa, o que só amplificou o efeito. A quebra no consumo privado reduziu o PIB e o desemprego, que já estava elevado, aumentou de novo".

As conclusões baseiam-se num estudo que analisa 12 países da OCDE entre 1980 e 2014. "Os resultados indicam que uma redução na despesa ou aumento de impostos leva a uma quebra muito maior do PIB se a dívida das famílias está acima da média de longo prazo". Neste contexto, falha o principal objectivo das medidas de austeridade: reduzir a dívida soberana.

Por outro lado, os autores concluem que as recessões levam a uma redução permanente na produtividade que atenua o potencial de crescimento. Este efeito é essencialmente explicado pela "perda de conhecimentos ["know-how"] da força de trabalho durante longas fases de desemprego.

Em causa estão também os impacto imediatos das reformas estruturais, desenhadas para aumentar o potencial de crescimento a prazo.

Constatando que os indicadores do relatório Doing Business, do Banco Mundial, melhoraram nos três países – mas "especialmente em Portugal" – os autores referem que neste período (2010-2014) as reformas estruturais funcionaram e aumentaram a competitividade das empresas.

À luz de estudos científicos "não é surpreendente que a actividade económica tenha caído apesar das reformas". Isto porque "estudos recentes mostram que as reformas estruturais levam a uma quebra no PIB – pelo menos a curto prazo". No caso de Espanha, Itália e Portugal, a interacção entre as medidas de austeridade e as reformas estruturais "geraram uma espiral" recessiva e "continuaram a aumentar a dívida soberana – o oposto do que se pretendia".