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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Passos Coelho ganha e tenta "negociar" com António Costa

Passos abre a portas a negociação com socialistas. Costa diz que não alimentará "maiorias negativas". BE rejeita "direita minoritária". Jerónimo diz que PS tem condições para ser governo.

Foto de Passos Coelho
"Para nós celebrar é só com maioria absoluta", afirma, decidido Fernando Catarino, um apoiante da coligação, sentado com a sua mulher, Maria Teresa Pacheco Nobre, numa das mesas do bar do hotel, que foi palco da noite eleitoral da coligação Portugal à Frente. No piso de baixo, onde, ao longo da noite se foram juntando dirigentes do PSD e do CDS, governantes e centenas de apoiantes, era notória a mesma sensação, mas contida, de Fernando Catarino.

A vitória tinha um quê de sabor amargo. A coligação não tinha alcançado a maioria "positiva", ou "inequívoca", ou "boa", como tantas vezes adjetivou Passos Coelho ao longo da campanha eleitoral, porque nunca quis utilizar a palavra "absoluta".

"Se morrermos na praia será por muito pouco, mas a vitória é inequívoca de qualquer forma", expressava Nuno Magalhães, o cabeça de lista do CDS, eleito por Setúbal, quando ainda havia uma ténue esperança que a coligação pudesse ultrapassar os 50% dos votos, como nas legislativas de 2011.

Perto das 18.30, meia hora, portanto, antes de fecharem as urnas no território continental, começaram a circular algumas sondagens que davam já a coligação como ganhadora. "Estou aqui a disfarçar para não explodir de alegria", confessava ao DN um vice-presidente do PSD, agarrado ao telemóvel, não conseguindo esboçar um sorriso. No minutos que antecederam a divulgação das primeiras projeções, havia um frenesim incessante de gente pelos corredores, num sobe e desce dos elevadores, que se foi dirigindo para a frente dos ecrãs. Em sincronia absoluta, acompanhou a contagem decrescente dos canais televisivos. Quando se visualizaram os resultados, irromperam aos gritos "Portugal! Portugal!" e aplaudiram ruidosa e fortemente a vitória. Na "fila" da frente estavam a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, ao lado de Braga de Macedo ,que ocupou a mesma pasta, no governo de Cavaco Silva. Não se ouviu nunca entoar as siglas dos partidos da coligação, PSD e CDS, tal como aconteceu durante toda a campanha eleitoral. As palavras de ordem oficiais foram esta noite, tal como nos outros dias e noites de campanha, apenas "Portugal!" ou "Portugal à Frente", separando as duas palavras uns segundos.

Nas quase três horas que se seguiram, até ser dado como certo que a maioria tinha ficado perto, mas na "praia", onde a coligação não tinha chegado, observou-se um corre-corre entre os pisos mais abaixo, onde estava a imprensa e os convidados, e o 12º andar, onde Pedro Passos Coelho e Paulo Portas se instalaram com o seu staff. Passos teve com ele Laura Ferreira, a mulher, que apareceu pela primeira vez neste processo eleitoral.

No corredor, junto à porta da suite, guardada pelos seguranças pessoais do primeiro-ministro, o vice-presidente do PSD, Matos Correia, o eleito por Viana do Castelo, Carlos Abreu Amorim, andavam de um lado para o outro, agarrados ao telefone, ainda antes de António Costa discursar. A reação dos líderes da coligação estava a ser preparada lá dentro e o seu tom dependia das palavras do dirigente do maior partido da oposição. Com Passos estava Marco António Costa, vice-presidente do PSD e com Paulo Portas, Pedro Mota Soares, vice-presidente do CDS, na primeira linha de apoio.

Na sala dos convidados, iam-se ouvindo os resultados, em direto nas televisões, mas também através dos vários militantes que, de telemóvel ao ouvido, iam sabendo as votações dos seus concelhos e distritos. "Em Azambuja, que é PS, estamos a perder só por 40 votos nas mesas dos mais velhos, mas a ganhar de longe nas mesas dos mais jovens!", exclama uma mulher.

Havia também conversas sobre a possível constituição do novo governo, quem pode ficar, quem deve sair, que tem mesmo de sair. Rui Machete, o ministro dos Negócios Estrangeiros, foi dos primeiros a chegar à sede de campanha e dos últimos sair. Preparado para o novo governo? "Isto é uma missão. Eu tenho a minha profissão. Depende se for necessário o esforço. Será o que o primeiro-ministro entender", declarou.

Faziam-se análises aos resultados, que muitos admitiam como "impensáveis há seis meses" e faziam-se as contas à estratégia de campanha da coligação. "Foi tudo muito bem pensado e planeado. Passos era a figura de estadista, Portas o que ia para o ringue de boxe quando necessário", dizia um conhecido cavaquista, que acompanhou as campanhas do atual Presidente da República. Por outro lado, acrescentou, "houve, a partir da segunda semana de campanha, uma grande desilusão com António Costa e em política, quando não se sabe gerir as expectativas isso paga-se muito caro. O voto útil acabou por funcionar contra o PS".

Para Sofia Aureliano, autora da biografia autorizada de Passos Coelho - Somos o que escolhemos ser - a vitória, mesmo sem maioria, é o resultado das "características que se lhe distinguiram nos últimos quatro anos, como a perseverança e a resiliência. Passos soube transmitir às pessoas a ideia de confiança e previsibilidade.

Foi em silêncio quase total que dezenas de apoiantes da coligação se colaram aos vários ecrãs de televisão para ouvir a declaração de António Costa. As suas palavras deixaram um desconforto latente. "Fica tudo um bocado pantanoso...", comentava um dirigente. Quando, terminado o discurso do secretário-geral do PS, os socialistas aclamaram aos gritos de "Costa! Costa!", aqui as palavras entoadas foram, mais uma vez, "Portugal! Portugal".

Um mar de gente, centenas, dirigentes, governantes, militantes, anónimos, começaram depois a afluir à sala onde Passos e Portas iriam falar. No 12º andar o discurso de Costa não foi o esperado, garantiram ao DN fontes que estavam no círculo mais próximo dos líderes. "Podia ter sido mais ao centro, mas foi sentido como uma viragem à esquerda", confidenciou. Demorou pouco menos de 20 minutos até Passos Coelho e Paulo Portas descerem, acompanhados, sempre, pelas palavras de ordem da campanha. Passos Coelho, garantiu respeitar "humildemente" a decisão dos portugueses de não ter dado a maioria à coligação, mas vincando o seu desejo de estabelecer "compromissos" para governar "para todos" os portugueses. "As nossas obrigações de Governo obrigam-nos a pôr de lado as bandeiras partidárias e a juntar todos os que querem construir um país melhor para o poderem fazer com o governo. Tomarei a iniciativa, no plano parlamentar, de contactar o PS no sentido de junto do PS procurar os entendimentos que são indispensáveis, as reformas importantes e estruturantes".

Paulo Portas não resistiu a atirar uma farpa a Costa, comparando os resultados eleitorais do PS - uma "derrota inabalável" - com os das europeias. "Toda a gente sabe quais foram as consequências no partido", frisou. Analisando o aumento dos votos à esquerda, considerou que essa evolução "nada tem a ver" com o que aconteceu em Espanha ou na Grécia. "Não vale a pena apelar a qualquer insurreição", salientou. Fonte: DN-Política.